quinta-feira, janeiro 18, 2007

Sopa de letras

Na voz estava um link com um "desafio", e apeteceu-me brincar com ele.
Toma Ludovina, é teu.


FORMAS, DEGRAUS, ÁGUA, ESPELHO, SEXO, MORTE, PELE, ECO, RETALHOS, AUDÁCIA, TELA, NEGRUME, CAFÉ, GESTOS, NORTE, VOZ, VIDA, PEDRA, SENTIDOS.


Falavas-me das mágoas que te dilaceram as entranhas como um tumor a minar, a minar, a morte perto e tão longe, a cegueira de não olhar o brilho da lua e das estepes na tépida modorra das manhãs, no teu lado Norte lunar acabrunhado, arrastado peso culpa enevoavando-te a felicidade no fim da tarde, em passos e gestos tolhidos, nas formas da caminhada oprimida dos prantos, agora riachos finos e moribundos de água choca.

E eu espelho, encolhida a tapar-me devagar de ti e a pensar num final diferente, nos amores e dos amores e daqueles que descreves que não têm entremeios, nem meios, nem fim, que nos respiram através da pele, do sexo projectado eco vento, em retalhos de cheiros e toques, num pestanejar furtuito enquanto mexes o negrume do café.
E enquanto a voz te abranda, vejo-me pedra, vida, tela retesada, e fremem-me as células, a crescer e mirrar, e voltear e rodopiar e enrolar, no núcleo apertado dos afectos escondidinhos que sobrevivem a pulsar, na audácia em saborear o bem e o mal que nos dizimam os sentidos. Daqueles que nos marcam a ferro indeléveis o sentir.

E a descer descuidada os degraus ainda te atiro em modos de despedida:
- E olha... um grande amor não tem que necessariamente deixar saudades. Pode-nos deixar plenos, íntegros, seguros de saber que se foi capaz, e que se é capaz de continuar a amar mesmo depois do fim.

16 comentários:

  1. Bolas, Jaquelina Pandemónio! Tu atira para ai com o que quiseres. Eu deixo! E queres saber? Concordo até. Há um tempo para tudo, até para olhar para trás já conseguindo olhar para trás. E, tropeçando nos degraus, sabermos que agora - porque conseguimos - também há saudades do futuro :)

    Beijo!

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  2. 100% de acordo que o amor é como uma ida ao dentista: teme-se das primeiras vezes mas o progressivo conhecimento dos objectos que lá encontramos tornam-nos tu cá tu lá com eles e a partir daí cada ida só pode ser esperança de melhorar a qualidade de vida. ;)

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  3. Viva Jp, vou levar comigo este conto para o desafio, pode ser ?

    Aparece lá em casa :)))

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  4. JP:

    E que sopa deliciosa. Ò minha amiga em vez de andares naqueles corredores inóspitos e frios às 5 horinhas da matina, devias mas era andar nos corredores das Artes, pinturas e literaturas. Um grande beijo para ti.

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  5. Que o bonito o teu desafio.
    Gostei particularmente do final.
    Dar valor ao facto de termos tido um grande amor!

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  6. e eu espelho, a ver o reflexo do teu pestanejar fortuito... e tu espelho, encolhida, a ver a dor que reflecte a tua, a que tiveste e a sombra dela. Tudo resolvido. Quem me dera ser capaz!

    (o desafio do Tozé, não era? Vai lá ver... coisas de qualidade, a aguardarem este teu texto... cada vez melhor, já to disse, cada vez melhor!)

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  7. És mesmo Ludovina! Então vais dizer ao finúrias que eu me enganei, e que te dediquei isto a ti?! Ai filha que andas mesmo mal da perna, como se o link abaixo não remetesse ao blogue do Tozé.
    :DD
    Mas pronto, eu perdoo-te, e dou-te beijos de volta
    ;o)

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  8. Maritree
    tem que ser
    uma especie de imunidade analgésica que nos torna mais aptos na escolha
    ;o)


    Tozé
    leva lá,pois embora a Hipatia se sinta inchada com a dádiva, o "dono das palavras" és tu.
    E costumo lá ir.
    :o)

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  9. Soslayo
    temos que ganhar a vida sabes?
    E é nos corredores e salas frias que recebo aquilo com que compro onde posso escrever e pintar.
    Beijo grande amigo


    Marta
    obrigado pelas palavras e pela visita

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  10. Já lá fui Elipse, embora nem sempre comente, aliás ando pouco argumentativa, ou meio desleixada, ou meio cheia de falta de tempo, ou apenas virada para as minhas cores.
    E são belos textos sim.
    As pessoas ainda conseguem ser belas quando querem.

    Quanto ao seres capaz,uns são, outros não,mas eu ainda não perdi a esperança em ti ;)
    E obrigado mulher das palavras

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  11. pois é, andas ausente. mas textos como este são um descanso. estás cheia de vida e essa cabeça funciona mesmo bem. presumo que o corpo é que paga, como dizia o outro. (o que é que eu queria dizer?)
    gosto da tua torrente, tenho sempre essa impressão, de uma "torrente " de palavras. que sai cá para fora como se estivesse presa há algum tempo. mas sem histeria. e no teu último parágrafo vê-se como és grande.

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  12. depois do mim é possível continuar a amar, claro... até se encontrar outro amor (que pode até nem ser grande)! ;)

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  13. lilly,a minha amiga é que continua imparável.
    Eu por cá ando de humores, mas temos sempre a desculpa do tempo.
    ;o)
    Mas tens razão na torrente e no facto da histeria não me ser um selo.
    toma beijo

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  14. fábula
    o ser humano é uma amalgama de afectos, logo, a acumulação ou o conjunto dos mesmos é quase como a lei da vida, se é que me entendes
    :)

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  15. olha o desafio do finurias!

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