sexta-feira, outubro 07, 2011

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A raiva é um contratempo, uma forma de vazio que custa a engolir. Um sapo na garganta a espernear nas convenções moralistas. A raiva que já foi necessária para a sobrevivência do homem em tempos idos, agora é denegrida porque é irmã prima da inveja, da fúria, do rancor, do ódio e da crueldade.
Se sinto raiva? Sinto. Da pura da nua, dura e inapta, desenvolvida e manobrada ao longo do crescimento pouco harmonioso. Controlo-a em esforço, em arranques, nuns dias mais, nuns dias menos.
Tenho-a guardada em gavetinhas catalogadas. Teimamos em perder tempo estupidamente e, um dia acordamos e não reconhecemos a cara enrugada que nos olha de sobrancelha franzida. Por isso catalogo-as minuciosamente. As gavetas.
Dizem-me que a raiva é inútil, que se pode desmembrar em partículas que o vento leva. Que se cura, que se delega, que se perdoa. Esforço-me. Tento. Miséria das misérias, em vão. Quando acho que aprendi, tufa! Regressa brutal e agónica.
Se é o quero para a vida? Não. Adapto-me aceitando-a como filha, simplesmente.

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