Voltei por convite à casa que me viu crescer. E nem o ar que fiz de desilusão versus amputação, fez atenuar a verborreia suada do novo proprietário.
- Está a ver? Tudo novo, tecto novo, paredes, chão… Está um brinquinho não está? E as toalhas, gosta das toalhas das mesas? Ah, e agora o melhor! Veja as casas de banho dos clientes. Veja! Veja! Um brinquinho, não é?
E arrastava-me pelo braço, mão garra, peluda e gorda, num desassossego que se acentuava à medida que a azia teimava em me subir pelo esófago.
Esforço-me, mas não me lembro como consegui sair, sem o empalar e emparedar primeiro no poço, agora cheio de entulho e ornamentado com flores de plástico, e uns pontinhos negros, que à posteriori reconheci como caganitas de mosca.
Dei por mim a olhar de baixo com ar bovinóide aquela fachada de tinta branca, outrora agarrada à hera que respirava ao som das estações.

- Aonde é que aquele cabrão meteu as traves de madeira do telhado? E o meu quarto agora serve de mictório público?! Porra!... O gajo substitui as escadas de granito por mármore! E aqueles morangos agarrados ao plástico das mesas…
-A casa cheira a gentio, balbuciei.

Acenou-me da janela, convicto no sucesso daquela casa de “comes e bebes” very typical.
A minha massa cinzenta blasfemava baixinho e cadenciada:
- Ganda filho da puta oxalá tenhas uma trombose rápida e sem analgesía...
- Ganda filho da puta oxalá tenhas uma trombose rápida e sem analgesía...
- Ganda filho da puta oxalá tenhas uma trombose rápida e sem analgesía...