terça-feira, junho 19, 2007

emo

Comecei por não perceber a insistência e fixação da minha mais nova no verniz castanho.

– E porque é que não posso usar, e porque é que achas que não devo usar, e porque é que achas horrível, e qual é a tua de não me deixares e porquê, e não posso mesmo usar, e qual é o mal, e todos usam, e, e, e, e.

-Argh! Chega de conversa sobre o verniz. Tens doze anos e não vais para a escola com as unhas dessa cor, assim como também não te deixo ir maquilhada, nem a cheirar a suor. É simples.

Cedeu a rosnar debaixo da franja que invariavelmente lhe cobre o olho direito, meticulosamente alisada todas as manhãs com as placas de desfrisar, a combinar com a camisola cheia de caveiras cor-de-rosa e os ténis aos quadradinhos daqueles que os talhantes usavam há muitos anos atrás. Três manifestações, seguidinhas de uma quarta põe qualquer um com o alerta laranja em rotativo. Esperei, interpretei sinais, muni-me de toda a paciência do mundo, e depois levei com a medalha de mãe metediça, incompreensível e controladora, apenas porque não a deixo passar tardes completas no parque da cidade como os pais dos amigos deixam.

-Pois lamento em preocupar-me. Mas é assim o jogo cá em casa. Tanto me dá como se me deu, que os teus amigos passem a tarde fora de casa, que não estudem, que não ajudem em casa, ou que se dêem mal com as mães bichos papões cotas emboloradas de cabelo à rapaz que assim dá menos trabalho e é à mãe de família.

Esta guerrilha de hormonas é lixada. Eu estou treinada, ela há-de estar.

Ando a digerir esta fase dela ser emo. As posses do fácies triste e pensativo, a boca apetecível voluptuosamente atirada em coração para os sete megapixeis, os noventa e nove amigos do hi5, o síndrome do punk rock rosa choque, do eu emo-te, tu emas-me, amo o mundo mas o mundo odeia-me, da histeria minoritária das amigas para sempre e mais além, da caveira com a tiara ou a coroa ou lá o que é, das meias riscadas nos ténis All Star, ciclope que forja raios apontados à progenitora, a curtir com os ya-ya,"dear diary, my life sucks”.

Esta cena não passa de uma (h)emorroida

Tirem-me deste filme, e já!

14 comentários:

  1. Sô dona JP.... memória curta???? Vais agora dizer que nunca quiseste as mesmas coisas, à medida do teu tempo????? A nossa vantagem é que já sabemos que o mundo não acaba se não conseguirmos pintar as unhas ou se não sairmos com os amigos.....

    Dando um saltinho rápido ao passado, lembro-me dos "horrores" que "sofri"..... ser "gaija em idade de hormonas saltitantes" é durinho..... e agora dá-me vontade de rir.....

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  2. Sô dona Patioba tenho uma memória de elefante. O maior trauma era não puder usar os ténis brancos sanjos.
    agora só tento impedir qua gaja corte os pulsos porque ser emo é sofrer
    ;)
    e deixa-me desabafar se faz favor que a vontade que eu tenho é enfia-la dentro do armário e só lá voltar daqui a 5 anos

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  3. Tu desabafa à vontade.....o blog é teu, ok? :D

    Essas manias ainda começam aos 15??????? Tenho q me ir preparando......

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  4. Não querida, começam mais cedo, aos doze
    argh!!!!!!!!

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  5. Olha que eu acho que a minha anda assim desde que nasceu. Ainda esta manhã pediu que lhe pintasse as unhas e tem metade da idade da tua.

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  6. :D mas foi de castanho escuro Elora?

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  7. O ritmo do teu texto e a forma como me prende a atenção é impressionante.Escreves mesmo bem JP! :))

    A chatice é que esse filme é como do Manoel de Oliveira: muito lento. ;)E pelo lado positivo, verniz castanho escuro é uma marca de clã que sai com acetona ao contrário de tatuagens e piercings. ;))

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  8. Como já te tinha dito (e em resosta à patioba, por aqui começaram aos 9, mais coisa menos coisa....e o tema era um piercing num umbigo (isto porque na língua não é tão giro pois só se mostra quando se abre a boca...) Socoooorro!!)

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  9. oh marie, tu não me faças corar pázinha.
    E sai assim assim com a acetona, a gaja limpa mal as cutículas
    ;)
    E O manel já está tão velhote
    :D

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  10. ahahahahah
    na lingua não se vê
    ahahahahah
    no cli ainda menos
    deixa-a fazer no umbigo,mar
    ahahahahahah

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  11. oh fábula, eu ando é mais ralada
    agradeço imenso, mas desta vez vou deixar o grelo quieto, preciso dele para outra cena
    ;)**

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  12. :-)))))

    O que a gente aprende no teu faz de conta!!!!


    Nem quero pensar quando eu tiver as minhas!!!


    CSD

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  13. Prepara-te ameixaclaudia, é do melhor!
    ;)*

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