quarta-feira, setembro 13, 2006
A versão polaróide
Depois de várias guinadas o carro resvalou na berma e deixou-se inundar de pó. Ficou por ali parado no arrolhar do motor e, no gorgolejar que subia de tom nas vagas dos olhos dela.
Esmurrando várias vezes o volante abriu-se-lhe na alma o grito embrutecido.
Emudeceram as cigarras e a coruja do celeiro. O organaz parou de roer, e os cães fitaram o escuro.
Lembrou-se de um número impresso numa qualquer parte, qualquer manhosice de voz amiga, SOS dos aflitos ou um misto de coisa nenhuma.
- Que era tarde e tal, que era longe e coiso, olhe vá ter com alguém amigo, à policia, ao Samouco, ao Hospital, e pronto olhe respire fundo que tudo se resolve, beba um copo de água, lave os dentes e durma, que uma noite de sono, e patatipatátá.
A cara de parva com que se olhou no retrovisor e as cigarras num berreiro e a lua tapada decrescente e o carro ainda a trabalhar e o telemóvel esventrado pela bateria e o pó que lhe arranhava os dentes e as mãos enclavinhadas no volante e a ira a amarfanhar-lhe o ventre e o som surdo das têmporas ali enfiado.
No silêncio reposto da madrugada obrigou-se à postura, acendeu o cigarro.
Só quando lhe resvalou o pé suado na embraiagem, é que percebeu que a leveza não era por estar descalça. Tinha perdido a peia.
Sorriu ao pé rasgado.
(Para TI)
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JP:
ResponderEliminarReceber um texto destes como oferta é de uma responsabilidade tremenda.
Fiquei não sei bem como se havia de dizer obrigada se fazer-te uma festa nos cabelos, ainda que virtual.
Percebo agora melhor o que disseste lá no POntos. mas subscrevo-te quando dizes: esperemos que haja quem esteja mais perto. E não seja de noite.
Um beijo
A vida ás vezes é mais complicada do que parece.Cabe-nos descomplicá-la, Mar.
ResponderEliminarQuando se escreve alivia-se.
Quando se fala também.
Saber ouvir não está ao alcance de todos. E nem todos sabemos ler.
E saber dizer obrigada ainda é um acto de paz.
E mesmo que nem todas as noites sejam mornas,para mim serão sempre doces.
E foi de noite que alguêm esteve perto.
Obrigado, eu.
Beijo
Caramba mulher! :)
ResponderEliminarA força deste texto faz-me pensar que só te direi patati patata.
Mas como tu acredito que os cigarros são umas muletas muito jeitosas. ;)
Ai filha se são! E cada vez mais caras! Mas que bem sabem depois de qualquer tempestade.
ResponderEliminar;-)
Faz-me lembrar o acidente que teve o meu namorado!
ResponderEliminarBeijos
CSd
Também foi espancado e expulso de casa por ti Claudia??!! Afinal fazemos os dois parte da lista dos números de violência doméstica. Ele que me mande o nº do "cartão"!
ResponderEliminarAinda me admira, que ele te continue a namorar minha querida Caudia,que não percebeste bem o textozinho...
Mas eu não me chateio :-)
Toma beijos minha ingenua rapariga
Quero apenas deixar um beijo...da cor do Céu quando, enamorado, faz amor com o Mar...
ResponderEliminarBlueShell
Obrigado BlueShell,retribuido.
ResponderEliminar:-)
É, podes chamar-lhe assim.
ResponderEliminarAfinal a nossa vivência das coisas pode ter tantos nomes...
Só lamento mesmo, é que não se trate de um argumento, foi a realidade nua e crua Soslayo.
Mesmo em terra nunca se deve perder o pé, JP.
ResponderEliminar;-)
Nesta caso foi só mesmo o sapato, Old.
ResponderEliminar;-)