sexta-feira, junho 16, 2006

Chuvas de início de verão

Na ida, como um jogo de pião, achei que o tempo estava a meu favor. Que iria assim tolerar a aspereza da terra, a secura do ar, os sentimentos embutidos e suspensos.
A trovoada circundava lenta os separadores, as casas vestiram-se de branco nauseante, e as serpentinas dos ares condicionadas, mostravam-me as línguas sibilantes.
Tudo como dantes. O tempo revisitado esvaído nas espirais do fumo do cigarro. O tédio.
Fui-me lembrando da frase, nunca subestimes a estupidez humana, enquanto tentava arranjar conforto no banco de madeira.
A dança das batinas iniciou o rodopio, ao som dos sussurros e dos gestos agressivos de mãos e dedos espetados.
E o tempo cego.

A vida a correr e os meninos a aprender, salta a pulga pequenina, um dois três, macaquinho do chinês, quem mexeu perdeu!

- Os senhores podem entrar por favor…
- Dentro de dez dias, será averbado na Conservatória do Registo Civil, o vosso novo estado civil.

Trovejou ferozmente nesses dias. A água lavou mansa o pó dos carros.
A alma não conseguiu abrir a gabardina, e deixou-se ficar para ali encolhida.

8 comentários:

  1. Agora respira fundo.

    Um beijo carinhoso para ti, miúda!

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  2. Obrigado Elipse, estou a respirar :-)

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  3. Não. Não fui à conservatória,Soslayo. O novo será de divorciada.E sim, já não era sem tempo.
    Beijo

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  4. A chuva já vai embora, o sol há-de voltar :)

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  5. Como depois de uma injecção: já passou! :)
    E agora, anda ver o sol que vem chegando. :)

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  6. Deixa que a chuva te molhe. E te lave a alma. Está na hora de deixar ir com as águas da chuva tudo, deixar que a enxurrada acarte o que já estava a mais...

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  7. Deixo-te só um beijo e a recordação de que estou aqui por perto com uma toalha especial para almas molhadas.

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  8. Minhas queridas meninas
    (Alcofa,Maria,Hipatia e Bigodes) :-)
    o sol está cá dentro, como a Vanus escreveu um dia destes.
    Só assim consigo manter a minha capacidade de amar
    (esta saiu foleira,mas nem queiro saber)
    Beijo-vos

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