domingo, abril 16, 2006
Amarguinha
Somos um bando de perfeitos. De verdadeiros artesões de sabedoria a rasar a parolice ferrenha, em que dizer mal de tudo está na ordem do dia.
Somos os melhores pais e mães, as esposas perfeitas e decorosas, as amigas de coração sincero, o profissional mais atento, o político mais honesto, as/os amantes mais fogosos, a beata mais devota, o arquitecto mais ousado, o pintor mais olhado, o escritor mais nobelizado, a vizinha mais metediça. O blogue dele, tem uma cor mais gira, as graçolas mais estilizadas, mas tem virgulas a mais, e uma gramática nauseabunda.
Nada se enquadra nos parâmetros, com que de manhã nos levantámos.
A esquina devia ser um bocadinho menos esquina, a cor estimula padrões de grafites, o papel higiénico devia ter 4 folhas, os livros de reclamações existem como pisa papeis. As avenidas deviam ser mais largas, as arvores mais verdes, as casas mais baixas, os papagaios de papel da cor do burro quando foge. As glândulas salivares dos outros é que cospem no chão, o cão dos outros devia usar fraldas, as beatas nascem por geração expontânea nos autoclismos das pastelarias, e os bancos do metro são esteticamente gelados.
Dantes era bom, dantes era mau, o futuro pertence a quem melhor pintar as cores do arco-íris.
Cruzam-se conflitos com inexistências. Achaques com genéricos. Hipocrisias e preconceitos com socialmente aceitáveis.
Estranhamos quando nos sorriem na rua, deixamos para amanhã os abraços, e arrastamos as tamancas funestas que nos impingem.
Passamos parte do tempo a achar que a galinha da vizinha é muito melhor que a minha.
Esquecemo-nos diariamente que somos perecíveis e descartáveis, e que deitados somos completamente inofensivos.
A nossa aparente complexidade, bem espremidinha, cabe numa colher de sobremesa que se toma de um só trago e, é amarga como o caraças…
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Somos todos especiais, JP, somos todos especiais. Por isso é que nenhum de nós o é até que alguém nos diga que sim. Ou se calhar não... :)
ResponderEliminarp.s. - acho que podes apagar o penúltimo post.
Claro que somos! A parte do tentar menosprezar os outros é que está fora do baralho ;)
ResponderEliminarE já apaguei :-)
Bebo esta amarguinha de um trago! Bravo!:)
ResponderEliminarNão é pisando os outros que passamos a artigo de qualidade.
O melhor de nós é o doce, e só o vemos se espelhado no sorriso de outro.
Tchim, tchim! Marietree :)
ResponderEliminarO exercício do ego é quase sempre funesto, porque só comparando as nossas debilidades a debilidades ainda maiores em alguém que vemos como inferior, nos sentimos realmente grandes. E, no entanto, Jaquelina Pandemónio, que seria de nós sem esse ego e a vontade de, assim, nos incluirmos de alguma forma na sociedade que, sem apelo nem agravo, tanto e mal criticamos?
ResponderEliminarA complexidade nunca foi um remédio fácil de usar (ou de engolir).
ResponderEliminar;-)
Jamais poderemos sobreviver sem ego, super-ego e etcs. E sentimo-nos grandes porque nos comparamos com alguem inferior? E é inferior porque é diferente? è através da maledicencia, mesquinhez,e pobreza de espirito que nos tornamos grandes??
ResponderEliminartodos temos direito a opiniões, e uns mais que outros, mas fazer dos nossos pensamentos ideais a aplicar sem consideração é que não.
Daí o velho chavão, que a minha liberdade passa pela liberdade do próximo.
Eu passo Hipatialudovina, tenho coisas mais importantes com que me preocupar ;-)
E Old, os remédios docinhos ficaram reservados para os putos. mas são só doces no inicio, pois no fim quase todos deixam travo ;-)
Pelo contrário amigo Soslayo. É no conhecimento das aves raras, que aprendemos a arte do afastamento.
ResponderEliminar:-)