A minha pressa em crescer, nunca teve a ver com maquilhagem e saltos altos. Tornaram-me, ou tornei-me, uma pirralha de carranca séria que espreitava por detrás da porta, as imagens a preto e branco das injustiças do mundo adulto.
-Quando for grande há-de ser melhor. Eu desejo muito, muito, que vai ser melhor, repetia nessas alturas baixinho. Adormecia então de costas já serenada, um sorriso tímido em equilíbrio precário, no muro branco da varanda que vibrava ao sol, à espera que as luas passassem depressa.
Crescer significava liberdade aquela que os adultos tinham.
Dominaria o meu lado do mundo apenas com um gesto de mão.
E as paredes da vida iriam ter as cores que o sabor do vento me traria.
E seria eu, e sempre eu a escolher o meu lado do mar.
Hoje aqui, deste cimo do muro pertença minha nesta hora, continuo a sonhar o arco-íris, mesmo que as pupilas na realidade só absorvam ainda o preto e branco.