Por três vezes na vida perguntaram-me se foi bom. O chamado banho de água fria. Está ali a malta a tentar recuperar o folego num estado que se pretende ser de semi embriaguez e tufa!
- E então, foi bom?
À segunda vez fui sincera. Ainda hoje o desgraçado deve frequentar o psiquiatra.
O meu primeiro namorado tinha a mania que era um garanhão. Não nos suportávamos de princípio. Depois, mais por birraça minha, que era assim a modos que a pata feia convencida que era muito inteligente e que não precisava de ser gira e ultra feminina para sacar um gajo que na altura era o top mais da zona, andei a montar a armadilha e o rapaz caiu.
Em casa, eu, não tinha autorização para sair, por isso era pela calada da noite que me esgueirava pela janela, fazendo a criatura estar horas à minha espera no carro, andava doidinho, dando-me uma sensação de poder indescritível.
As minhas amigas andavam de queixo caído e invejosas, porque a pata feia de cabelos crespos cortados numa espécie de bola à Boney M, que não usava vestidos ou um mero hidratante para as sardas, já tinha vinte e um anos, velhíssima, agora é que mandava no esquema.
Eu adorava não ter. Aquelas ligações que achava serem demasiado dominadoras para mim, eram prisões, peias controladoras onde estás com quem estás a que horas, amas-me, não me amas, malmequeres desfolhados em tardes mornas e corações partidos.
Descobrir que o bom, seria ele, e não o acto em si, levou aí uns dez minutos a processar, foi a modos que estranho, após quase 6 meses de namoro à sexta-feira lá expliquei da maneira menos agressiva que consegui, que não, que nunca tinha sido bom pelo menos para mim que ele sofria de ejaculação precoce mas que há médicos que tratam disso e tal que continuaria a ser amiga dele mas que a nossa intimidade acabava ali obrigadinho.
O desgraçado nessa noite bateu com o carro num sinal, eu fiquei uns tempitos com um pequeno remorso, a irmã perguntou-me umas semanas depois se eu lhe tinha dito alguma coisa nessa noite, que o rapaz chegou a casa com uma batida no carro que andava estranho e de orelha murcha, agora que falo nisso não me parece ter sido só a orelha, e ainda hoje recordo o chiar das rodas do Golf GTI vermelho no empedrado da calçada ao abalar e eu ali especada a respirar que alívio pá...que alívio.
Encontrei-o depois ao longo da vida muitas vezes na rua, ele sempre com aquele ar de quem come o mundo e eu com aquele sorriso cínico de quem sabia que a parecença com os coelhos não era meramente por causa do tamanho das orelhas.
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