O meu avô era comunista. Sem ser ferrenho idolatrava a independência e a igualdade entre os povos, e religiosamente guardava no fundo de uma arca, livros e transcritos proibidos pelo regime salazarista. Educou-me de forma pouco ortodoxa. Ensinou-me a ver as pessoas como um todo e depois por partes, passiveis de compreender e de castigar quando o acaso exigisse. Fez questão de me contar o medo e a brutalidade da guerra, da mesma maneira como me mostrava a fragilidade da metamorfose da lagarta em borboleta.
Interessei-me quase patologicamente sobre relatos e series dementes sobre a bestialidade do ser humano, praticados durante a 2º guerra mundial. Eu era a heroína que salvava o mundo da intolerância.
É o nono email que recebo num curto espaço de tempo a perguntar se sabia quem era Irena Sendler.
Resposta:
- Sim sei há algum tempo, e relembro-me quando foi dada a notícia do seu falecimento em 12 de Maio de 2008.
Sim, leram bem. A dita morreu há quase dois anos. E não era alemã, era Polaca nascida na Polónia em 1910, uma completa desconhecida durante muitos anos para os polacos, que passaram a render-lhe homenagem a partir de 2007 altura em que o seu nome foi proposto ao prémio Nobel da Paz.
Fiquem também a saber que o” memorial israelita do Holocausto, o Yad Vashem, lhe entregou em 1965 o título de Justo entre Nações, destinado aos não judeus que salvaram judeu”.(Pesquisem na net que chegam lá)
Mais uma curiosidade acerca de Irena. Não era canalizadora, era assistente social antes da guerra e, trabalhava com “famílias judias pobres de Varsóvia, a primeira metrópole judia da Europa, onde viviam 400.000 dos 3,5 milhões de judeus de toda a Polônia”, em Varsóvia. E foi com a ajuda de bombeiros e de camiões de lixo, que as crianças eram retiradas do gueto e abrigadas em conventos ou entre famílias católicas. Fazia então parte do movimento de resistência Zegota, (Conselho de Ajuda aos Judeus).
Foi presa em 1943, torturada, presa e condenada á morte, sendo sido salva por um dos oficiais alemães contrário ao regime hitleriano. Viveu sobre identidade falsa até ao final da guerra, e continuou a trabalhar como supervisora de orfanatos e no seu país.
Por isso, meus caros, façam-me o seguinte carinho. Eu sei que a maioria gosta de correntes e reenvios de correio. Confesso que há alguns que me dão gozo reencaminhar, pela originalidade, pela imagem, pela estupidez ou apenas pela preguiça de escrever que ainda vos gosto, e mando-vos mais este email para saberem que ando por aqui e tal.
Mas destes, eu passo. Já tive a minha cota parte de horror, vivo ainda com uma grande parte dele, sei coisas a mais que não devia saber, e recuso-me a reencaminhar o passado. Lembrem-se que o cérebro guarda e encaixota e só se esquece se nós quisermos. Eu sei quem era a Irena, o Oskar Schindler, David Bankier, Andrée Peel, ou até tristemente Victor Capesius, apenas para citar um numero ínfimo .
E voçes sabem?
pois... dá um excelente romance. Será que já alguém o escreveu? tipo le clázio ou herta Muller?
ResponderEliminarSe não em breve algum deles o fará.
entretanto a minha resenha do livro de Thmas Keneally "A Lista de Schindler" já está pronta. Tenho vindo a publicar os textos das análises das obras debatidas no cineliterário, o que significa um esforço para apanhar o tempo que tem sido inglório na tenta~tiva de postar o que vou lendo...
dessa rubrica ainda falta o "Ensaio sobre a cegueira" (Março)e "O doente Inglês" (Abril). entretanto haverá outros textos pelo meio...
csd
Vá lá. "Le Clézio" e "Thomas".
ResponderEliminardepressa e bem há pouco quem...
csd