quinta-feira, fevereiro 14, 2008

A carta

...já me deram muitas desculpas, estar sobre uma tempestade de neve é a primeira. Faz lembrar aqueles romances de pacotilha que eu lia quando era adolescente, ou na actualidade, os filmes americanos que neste caso assentam que nem uma luva.

O meu estilo, como lhe chamas, é negro. Um misto de rebelião com saudosismo barato, em que os heróis nunca deixam de ser heróis mesmo que o reumático já lhe encha os ossos inquietos.

E rapaz... serás sempre rapaz, embora tenhas menos cinco ou seis anos que eu, e sejas mestrado em sei lá o quê, pois usarás sempre óculos de fundo de garrafa a taparem-te as pestanas grossas e farfalhudas, e sentar-te-ei sempre no meu colo enquanto digo à tua irmã P. que és o meu namorado enquanto te encho a bochecha corada de beijos. Estás a topar a cena?

Skype só para a máquina, embora em momentos de euforia publicitária opte pelo Tide ou pelo Ariel e me arrependa logo a seguir e ande uma semana a repetir que não irei seguir conselhos marados de gajas domésticas e giras que até lavam roupa e tudo em casa.
Enfim…

Pensarás, a gaja está completamente xoné, está para aqui a debitar um discurso sem nexo, mas au contraire, estou tal como era há trinta anos atrás quando não me calava enquanto jogava ao Risco contigo, e tu perdias e ficavas completamente lixado e juravas nunca mais jogar comigo a coisa nenhuma, e eu desenhava-te mais um Cheguevara para colares na parede e continuávamos amigos como dantes. Lembraste? Ser amigo de uma adolescente era lixado...

Vais ver que não nos vais reconhecer, dizes tu, rapaz de certezas irrefutáveis, lógicas bizarras e teimosas.
A tua miúda não que só lhe vi um retrato em bebé. Tu, estás igualzinho filho, mais careca, com rugas que não te conheço, os mesmos olhos tristes por detrás das lentes de contacto, e uma barba por fazer que via diariamente na cara do teu pai. O cachecol ainda o enrolas como dantes. Via-te todos os dias Johnny, reconheço-te até no fim do mundo.
Toma beijos e aperta-me esse sobretudo que faz frio por aí.
Desta que te estima.
J.P.

9 comentários:

  1. :)
    Sem a tua rebelião, recordas-me os Trovante: há sempre alguém que nos diz tem cuidado, há sempre alguém que nos faz pensar um pouco... :)

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  2. marietree, eu ao lado da bazuca guardo sempre o package medicinal, se é que me entendes ;)

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  3. Andam (elas) para aí a dizer que fazes anos :))
    Por isso, Parabéns, um dia feliz
    Beijos

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  4. =) Obrigado vanus.
    beijos retribuidos

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  5. Bela carta...


    ...adorei a nostalgia ali a espreitar nas entrelinhas...


    CSD

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  6. J.P.

    Nada como uma boa amizade da adolescência para fazer recordar o "jogar ao risco". E, haverá sempre a nostalgia desse tempo que não passa! Passamos nós, a relembrar tantas estações viajadas e outras por viajar. Um beijo.

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  7. A nostalgia Ameixa claudia é o que nos faz a vida sabias? e recordar coisas que nos foram ternas faz-nos acreditar de novo
    :)

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  8. Pois é Soslayo...como dizia o outro, ecordar é viver
    Um beijo para ti

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